1. Introdução Se partirmos do princípio de que falar é primordialmente comunicar, e que no sentido do termo comunicar se inscrevem não só a competência linguística do falante/ouvinte mas também a sua competência comunicativa, é fundamental para a interacção verbal o conhecimento dos factores linguísticos e não linguísticos, i.e., interagir verbalmente implica, necessariamente, escolhas feitas não só ao nível do conhecimento linguístico, mas também feitas de acordo com factores contextuais e situacionais - estando ambas em inter-relação. Assim, a produção / compreensão de um enunciado está directamente ligada à situação enunciativa em que ocorre; ou seja, é necessário ter em conta as condições de produção de um enunciado de forma a aceder eficazmente ao seu sentido global. Ora, os participantes do processo verbal - locutor e alocutário -são componentes essenciais de qualquer acto enunciativo - sem eles não existe enunciação -, a instituição de um eu enunciador supõe imediatamente a existência de um tu e a criação de uma relação interlocutiva. As formas de tratamento alocutivo reflectem essa situação enunciativa, dando conta da relação interlocutiva existente entre locutor e alocutário. O objectivo geral do nosso trabalho é reflectir sobre as formas de tratamento alocutivo, concretamente sobre o vocativo como forma alocutiva que, ao explicitar o tu da enunciação, põe exactamente em destaque não só a relação interlocutiva mas, no fundo, a própria enunciação. Partindo da abordagem das formas de tratamento com função de sujeito, tentamos apurar o que caracteriza especificamente o vocativo, tanto em termos morfo-sintácticos como semântico-pragmáticos. No fundo, procuramos responder a uma simples questão: O que é o vocativo?, Qual a sua finalidade?