A Historia de Japam, de Luís Fróis, escrita a partir de um conhecimento íntimo da civilização nipónica, surge como um lugar privilegiado para analisar a imagem do Outro. Não cabe no âmbito do nosso trabalho questionar a verdade histórica nem o grau de realidade da imagem do Outro, mas interrogar um certo número de imagens que se exprimem numa época e numa obra, e que revelam na sua tradução do Outro, o espaço ideológico de quem as elabora. Falar sobre o Outro é colocá-lo como diferente. Esta diferença, que aparece como uma simples não-coincidência, só se torna importante quando é dita, quando se deixa aprisionar nos sistemas da linguagem ou da escrita - ou seja, quando é representada. Aqui começa o trabalho de trazer o Outro ao Mesmo (e que não é, pelo menos necessariamente, um trabalho de redução ao Mesmo, uma vez que a escrita codifica e sistematiza essa diferença) : a partir de uma diferença significativa, desenvolver uma retórica da alteridade, que de modo persuasivo possa inscrever o mundo de onde se fala no mundo sobre o qual se fala. É esta a tarefa do narrador.